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Bico do Oboé
03:41
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Soprou no bico do oboé
Quase desmaiou
Caiu no peito da mulher
Filha de Xangô
Em plena Sé
Sentiu os pés ao vento
Ninguém acredita se eu disser
Como se abalou
Mas toda a orquestra viu a prece
Tudo clareou
A mãe de fé
Sentiu suas mãos
No sangue
Da bala que penetrou o peito
Do soprador do oboé de um jeito
Que faltou ar pra surtir efeito
Na orquestra que tava no no auge da obra
E a bala era de vingança e medo
De um homem faltado com respeito
E a pólvora era parte do preço
Que o soprador pagou por roubar uma mulher
Soprou no bico do oboé
Quase desmaiou
Caiu na boca, rasgando a garganta!
O gosto da dor
Gosto de sangue e de quem quer
Vida e mais amor
A força e a fé
Ecoarão nos cantos.
Soprou no bico do oboé
Não desafinou
7 passagens, tudo ré
Nota em fina flor
Num dia quente
Olhou pra gente
E disse com efeito
Se eu fiz foi pra aquecer o peito
Pra ter em vida o que eu mais respeito
Que não é posse, prato, nem leito
É ter a vontade que aflora na alma
Em vida eu soprei pros quatro ventos.
Toquei pra pobre, padre, prefeito,
e nada nunca foi tao perfeito.
Do que a noite toda na cama daquela mulher.
Nenhuma jangada é mais forte que o mar.
Nenhuma pele e mais dura que a bala.
Nenhum soprador tem saúde pra um atirador.
Nenhuma mãe que é de santo tem nela
a força que apaga o tiro e a vela.
Nenhuma vida que é longa se faz só de amor.
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